O diário de Dante

                Ele veio a mim e sorriu, me serviu e me alimentou, sobrevivi graças a ele, o príncipe das trevas me deixou sem esperanças quando fingiu me dar esperanças. Eu morreria, meu destino era um só, estava condenado, ele veio e me salvou, salvou? Tudo tem um preço e ele cobra caro. Me lançou em meio suas criaturas, me fez uma delas, me mostrou o quanto eu poderia ser mau, o quanto eu sou demoníaco.
Dia após dia vejo os olhos dos desesperados pedindo por suas vidas, vejo os inocentes por quem me senti um covarde, vejo os olhos dos desgraçados cujo não hesitei, demônios que saboreei o sangue e entreguei a alma com prazer.
Outro dia vi aquele rosto ossudo e carrancudo, certa vez me disseram que somos iguais, que nos metemos em confusão e sempre voltamos para resolver. Ele não devia estar aqui, mas sei porquê está, conheço ele e seus amigos, já foram meus amigos e meus inimigos, o sentimento que tenho se mistura em vingança e gratidão.
Também conheci a luz, a esperança com o cheiro de um perfume caro, vestida com uma elegância impecável e trabalhando com uma eficiência inigualável.
A morte salvou uma vida, não a minha, a minha está perdida e longe de se salvar, mas a que importava, que merecia, que pagou a dívida, essa foi salva. Que preço? A vida que eu poderia continuar tendo.
Não posso dizer que vivo pior agora do que antes, materialmente e espiritualmente estou muito melhor, o que perdi? Apenas a liberdade e a consciência tranquila.
Quer saber o que prefiro?
Deveria ter pensado nisso há muito tempo atrás, agora eu apenas tenho que fazer, simplesmente por falta de opções.
Desde o dia da minha morte, o dia que aceitei a ajuda de um sorriso tão caridoso, tão doce e suave, descobri que não vivo, apenas sobrevivo, sempre sobrevivi e é isso que vou continuar fazendo.

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